sábado, 14 de fevereiro de 2009

Altimar Pimentel, crítica nunca publicada


Olá pessoal,

estou colocando em nosso espaço um texto de autoria do querido e saudoso Altimar Pimentel sobre nosso espetáculo. Esse texto nunca foi publicado, por isso é um alegria ter esse cantinho para disponibilizarmos a todos o material que temos escondido em nossos arquivos. Tivemos a oportunidade de conhecer Altimar no Festival de Teatro de Guaramiranga, e ficamos muito próximos dele e de sua incansável pesquisa pela cultura popular de nosso estado. Um trabalho realmente muito digno e importante, ainda pouco reconhecido. Espero que gostem do texto.

Abraço terno
André

Diário de um louco: Altimar Pimentel

Gratifica-nos constatar haver o teatro paraibano alcançado nos últimos anos os mais altos níveis de toda a sua história. Desnecessário destacar aqueles espetáculos mais representativos, alguns com longevidade dificilmente atingida mesmo por encenações do Sul do País. Mas, considere-se sobretudo o sucesso de crítica e a quantidade de prêmios acumulados em festivais os mais diversos a atestar a qualidade do nosso teatro.
Sobejam prêmios em concursos de dramaturgia como também em festivais é longa a lista de premiação dos espetáculos, da iluminação, cenografia, figurinos, atores e atrizes em testemunho vívido do alto nível do teatro paraibano.
Em nenhum outro momento a arte teatral paraibana logrou tal expressividade quer na dramaturgia, quer na encenação.
Exemplo mais recente da alta qualidade do nosso teatro é o espetáculo Diário de um louco, adaptação de André Morais do conto homônimo de Gogol, com direção de Jorge Bweres e André Morais e interpretação deste último e música de Marcílio Onofre, Samuel Correia e Wilson Guerreiro.
Foi para mim, integrante do júri do Festival de Teatro de Guaramiranga, uma gratificante surpresa assistir o espetáculo paraibano. Deixei-me enlear pelo andamento do espetáculo como os demais membros do júri. Os comentários após a apresentação foram os mais desvanecedores, elogiosos em todos os sentidos e nas minúcias observadas. Nenhuma observação negativa. A cada elogio mais me alegrava, mesmo tendo consciência de minha posição como jurado, sem permitir a parcialidade de meu voto.
Naquele momento, para mim, julgava-se o teatro paraibano em um espetáculo limpo, competente, criativo, com linguagem cênica moderna, com figurino adequado, cenário despojado, onde nada é supérfluo, e uma interpretação sublimadora.
Da surpresa inicial passei à análise dos detalhes. O cuidado meticuloso e criativo como o espetáculo havia sido construído por Jorge Bweres e André Morais revelava íntima cumpliciade entre o primeiro e o segundo também ator único. A música sublinhava a ação dramática com competência exemplar. A iluminação precisa acompanhava os estágios emocionais do intérprete...
Esta mesma sensação tomou-me ao rever o espetáculo no Teatro Santa Roza. Fiquei preso a cada movimento, a cada fala do ator e ainda mais gostei do seu trabalho competente, em tempo correto, comedido, despojado de exageros.
Já havia visto a adaptação de “As Pelejas de Ojuara” de Nei Leandro por Jorge Bweres, mas agora tinha diante de mim novo trabalho, como repassado por um agudo senso crítico e muita sensibilidade.
Menor não fora a minha admiração por André Morais na criação do personagem do monólogo, forma teatral das mais difíceis.
Vi-o prender a platéia e conduzi-la em silêncio total por todo espetáculo, com uma suavidade, leveza e plasticidade a denotar um seguro domínio do palco e da arte do Ator.
É um monólogo dramático, trágico, narrado com segurança e criatividade, resultando leve, tão leve como sai do teatro a alma de cada espectador.
Uma lição de teatro para se pensar e repensar, em sua grandeza magnífica pela correção e consciência da Arte do Teatro.
Esta montagem de Diário de um louco engrandece o teatro paraibano.

Altimar Pimentel é escritor, dramaturgo e pesquisador da cultura popular.

4 comentários:

  1. André, receber palavras assim de uma figura como Altimar Pimentel é combustível para qualquer artista, né não?

    Estarei sempre por aqui. =*

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  2. Legal, Jorge!

    Osvaldo Travassos

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  3. A alma de André interpretar cada cena deste espetáculo. Muitos e cada vez mais aplausos pra você, André.

    Patrícia

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  4. Errata: por falta de revisão, digitei errado a mensagem acima. 'A alma de André interpreta cada cena', era o que eu queria dizer. Parabéns pelo espetáculo que, você sabe bem, acho lindo demais.

    Patrícia

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