sábado, 24 de outubro de 2009

Ouricuri


Com a mesma equipe do Sesc de Bodocó, partimos para Ouricuri, cidade vizinha. Agora mais seguros e amigos, conseguimos contornar os contras com mais habilidade. Novamente, o primeiro espaço oferecido para nós não era nada adequado, com palco pequeno e platéia grande e distante. Corremos pela cidade e conseguimos um galpão que pertence à Associação dos Cortadores de Cana. Começamos então o trabalho, e fizemos um teatro charmoso novamente rodeado por "TNT" preto. A mesma equipe de luz comandada por Galego era pura habilidade. Começamos na hora, para uma platéia lotada e extremamente receptiva. Foi uma apresentação incrível, um encontro emocionante. Dentre os risos, e as emoções trocadas pela platéia com o ator, houve um fato bem curioso. No meio do espetáculo, uma mãe levanta-se com a filha no colo para sair pela lateral (depois descobrimos que a menina estava louca para fazer xixi) e enquanto ela tentava ser discreta e educada na sua saída, o personagem sai correndo do fundo da cena e surpreende as duas, falando algo da história diretamente para elas. A menina sem conseguir conter o medo se treme toda e cai no choro, fazendo a platéia cair na risada... para fechar a cena com maestria, o momento da fala do personagem era exatamente: "... ela deve ter me tomado por maluco, tal o medo que lhe causei...". Mãe e filha saíram e o espetáculo continuou cheio de viço até o final. Que bom é ter história para se contar.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Bodocó

Voltando para a labuta diária, partimos para cidade de Bodocó. Interiorzão do estado. O frio acabou e o calor não nos deu trégua. As condições também não eram nada favoráveis, apesar do empenho da equipe do Sesc local. O teatrinho da cidade era forrado com gesso, o que impedia que qualquer coisa fosse pendurada nele, nem luz, nem cenário... Bem difícil para nós. Conseguimos um outro espaço, forrado em telha e um dos problemas foi resolvido... Mas o maior deles ainda era a ausência de qualquer equipamento de luz, não havia sido providenciado nada, a inexperiência do Sesc local era evidente, mas a força de vontade deles também. Por sorte, eles conseguiram alugar o equipamento de última hora, a equipe de luz comandada pelo grande Galego foi nossa salvação. A montagem da iluminação, que geralmente começa às 8 da manhã começou às 5 da tarde, foi um trabalho árduo. Mas de mãos dadas, desbravamos a selva, e fizemos uma boa apresentação para uma platéia singela e feliz.

*Também não houve tempo para fotos.

Triunfo


Finalmente um dia de folga. Como foi desejado esse dia. E não podia ser mais recompensador, pois chegamos à cidade de Triunfo, no finalzinho do festival de cinema da cidade. Ficamos hospedados no hotel do Sesc, no alto da montanha, no friozinho para muitos inimaginável em Pernambuco. Uma delícia. Confessamos, que é uma das cidades que mais nos dá saudade. O dia de folga também serviu para lavar roupa, que com o acúmulo de trabalho, na nossa bagagem já não se encontrava qualquer resquício de roupa limpa.
Acordamos cheirozinhos para a nossa apresentação no belíssimo teatro da cidade, com toda a estrutura adequada e equipe técnica profissionalíssima... Mas como esse povo de teatro é um bicho medonho, e nós não fugimos a regra, invertemos todo o sentido espacial do teatro, colocamos o público no palco e fizemos o espetáculo na platéia. Deu super certo. Foram duas apresentações, uma seguida da outra (para compensar a récita não ocorrida em Surubim), com casa cheíssima. Na primeira, houve um problema no som, algum desatento desligou o equipamento durante a peça, e a apresentação ocorreu quase toda sem música, elemento importantíssimo para a narrativa fluir com delicadeza. Haja fôlego, ator! Problemas resolvidos, na segunda récita, tudo deu certo: técnica, ator, público e emoção. Um Triunfo!

*Na foto, nós nas janelas do teatro charmoso da cidade.

Buíque


A caravana do Lavoura pousa agora em Buíque, ainda sob a chuva fina. A mesma técnica de Arco Verde nos acompanhou. Mais cientes da responsabilidade e do tamanho do trabalho, os rapazes se comportaram de forma mais eficiente. Naruna, coordenadora local, mostrou muito empenho e dedicação. Construímos um teatrinho rodeado de tecido-não-tecido preto, o famoso "TNT", no salão paroquial da cidade. A platéia foi pequena, mas afetuosa. E a apresentação foi bonita, apesar das goteiras que caiam no cenário durante a peça, o que deixava o ator (que é também o cenógrafo), meio desconcertado e desconcentrado, vendo as letras do seu diário-cenário virarem manchas de tinta. Mas os deuses ajudaram e foram apenas manchinhas...

*Na foto, nós, Naruna (lindinha, de cachecol), sua equipe e as goteiras que invadiram até a fotografia.

Arco Verde

Clima nublado e chuva fina em Arco Verde. O espaço que nos foi destinado primeiramente foi um local aberto no Sesc local, onde a platéia ficaria sentada em longas e distantes escadas. Para quem conhece nosso trabalho, sabe como é importante a intimidade e a aproximação com o público, por isso era algo realmente impossível de ceder. Conseguimos um outro espaço dentro do Sesc, um teatro meio improvisado, onde um palco pequeno e singelo era rodeado por um cerca enorme de madeira que nem uma boiada derrubaria, mas que durante toda a manhã o pessoal da equipe tentou e conseguiu finalmente abrir para nós. A montagem de toda a estrutura foi bem sofrida, as condições eram difíceis, o equipamento de luz deteriorado e para piorar a situação, falta energia na cidade. Durante 2 horas ficamos sem poder evoluir nos trabalhos. Tudo isso fez com que o espetáculo, que estava destinado para às 21h, começasse quase às 23h. Agradecemos imensamente a enorme paciência e generosidade do público, que além do atraso, assistiu a uma apresentação com sérios problemas, sem qualquer sutileza de luz, algumas cenas em breu total e ator e técnica à beira do abismo. Ao fim de tudo, o cansaço bateu e não restou ninguém da platéia para o costumeiro debate final.

*Não houve tempo nem fôlego para fotos.

Caruaru


Próxima parada, Caruaru. Fomos recebidos por Severino Florêncio, que além de responsável de cultura do Sesc local é também ator e (se não nos enganamos) tem uma versão do Diário de um Louco há mais de 20 anos. O encontro entre os dois diários foi profícuo. Apresentamos nosso trabalho num teatro delicioso, com a disposição da platéia perfeita para nós, mas que infelizmente era bem carente em recursos de iluminação. Apesar disso, conseguimos fazer as adaptações devidas... Entre luzes feitas com lanterna, outras que ligavam e desligavam diretamente nas tomadas e lentes de refletor quebrando durante a récita, tivemos um encontro lindo com o público. Casa cheia. Pessoas atenciosas e receptivas. Mais uma vez o teatro e o afeto se fez maior que tudo.

*Na foto, o ator-mentado explorando o espaço cênico.

Belo Jardim


Mais flores... Partimos para Belo Jardim, cidadezinha cheia de aconchego amigo... No primeiro dia houve a Oficina de Cenografia, ministrada por Jorge, para alunos ávidos por conhecimento, num domingo, às 8 da matina... Assim que chegamos, fomos recebidos pelos cachinhos pretos e olhos verdes de Ana Flávia, coordenadora de cultura local, que pra nós foi uma das mais gratas surpresas de toda essa maratona. Com extrema dedicação e profissionalismo, Ana foi impecável. Apesar da falta de estrutura teatral na cidade, ela conseguiu todo equipamento de luz solicitado, arregaçou as mangas e montou toda a estrutura conosco, como um novo membro do grupo. Juntos fizemos de uma cantina aberta de colégio, um teatro charmoso e muito digno. Uma platéia de estudantes esperavam ansiosos e barulhentos do lado de fora. Começamos um pouco atrasados, o público lotou nervosamente o espaço, mas aos poucos foi se entregando ao trabalho e conseguimos comunicar de uma forma terna e feliz. Dever cumprido com louvor.

*Na foto a bela equipe de Belo Jardim. Amigos queridos.

Garanhus


Recuperando forças, seguimos para o friozinho de Garanhus, cidade famosa por seu badalado festival de artes, pelas flores e pelo clima agradável. Mas não foi tão tranquilo como esperávamos, o espaço que nos ofereceram também não era nada adequado para o nosso trabalho, e a idéia de cancelar de novo o espetáculo nos deixava bem nervosos. Mas com a força de Lilian, coordenadora de artes local, corremos por toda cidade em busca de um outro espaço que fosse minimamente adequado. Depois de muitos telefonemas, corridas de carro pela lama, em meio a chuva, ela finalmente conseguiu a liberação do teatro da cidade... Ufa! Meio dia iniciamos a montagem de toda estrutura. Com a equipe técnica imensamente solicita, conseguimos montar tudo há tempo, e bem cansados, começamos nossa apresentação no horário. Valeu a pena. O público nos recebeu de coração aberto, com olhares ternos, sorrisos e sensibilidade aguçada, eles embarcaram na história do personagem com muito afeto e fizeram dos 55 minutos de peça um encontro humanamente lindo. São esses momentos que fazem essa jornada valer a pena.

*Na foto, equipe liderada pelo dedicado Eduardo em Garanhus.

Surubim


Logo depois de uma recepção calorosa em São Lourenço, um balde de água fria. A apresentação na cidade de Surubim foi cancelada. Por falta de empenho da equipe do Sesc local e de condições mínimas (mínimas mesmo) para a realização do espetáculo. Não podemos apresentar nosso trabalho, o que nos deixa com uma frustração enorme de não levar ao público de Surubim o nosso teatro e de não exercer a função e o ideal do projeto Palco Giratório, que para nós é tão caro. A nossa ida a cidade se resumiu a um encontro com as pessoas de arte da cidade, tentando trocar um pouco as experiências artísticas, mas com a ausência do espetáculo, fomos dormir sem a sensação de dever cumprido.

São Lourenço da Mata


Em São Lourenço da Mata, nossa primeira apresentação, fomos recebidos de braços abertos pelo pessoal do Sesc Ler. Para o nosso trabalho, nos foi oferecido um corredor do Sesc, entre as salas de aula e os banheiros. Um espaço que não era ideal para o espetáculo, mas sentimos que era o que de melhor eles dispunham. Com todo o empenho da equipe do Sesc e dos companheiros contratados para a iluminação, conseguimos fazer desse espaço um teatrinho lindo, e confesso que todos nós ficamos bem impressionados com o resultado final. O público lotou o espaço e saímos muito satisfeitos com o respeito com que fomos recebidos. No final do dia ainda havia um "banquete" de despedida, tantos doces e salgadinhos que batizamos o local de Sesc Comer. Agredecemos muitíssimo pela acolhida.

*Na foto a equipe gentilíssima de São Lourenço, cavalheiros de verdade.

Ao céu de Pernambuco




Sob o céu imensamente azul do nosso estado vizinho de Pernambuco, partimos para uma jornada de 12 apresentações por cidades do interior. Cruzamos todo o estado, de ponta a ponta, iniciando em São Lourenço da Mata e terminando em Petrolina. Uma experiência única e inesquecível, que nos encheu de força e maturidade. Também nos fez entender o quão importante é o encontro com o público e como essa troca pode tocar muito a eles e a nós mesmos. Passando por cada uma das cidades, encontramos um público ávido por atenção e respeito e pronto para nos receber com olhos e corações atentos. Aqui entendemos que o ser humano, em qualquer lugar do mundo, está aberto a emoção, a sensibilidade e a descobrir-se ainda mais como ser humano. Estamos conhecendo o nosso Brasil pelas mãos da arte e isso nos deixa muito emocionados com nossa escolha e nosso ofício, que transforma tanto aquilo que somos. Aqui vai um breve relato sobre nossa passagem por cada uma dessas cidades, guardando no peito o afeto dos nossos irmãos pernambucanos.